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Ninguém como Lucas deixou transparecer, em sua obra, a viva e vibrante sensação que sentiu diante da novidade evangélica. Originário do mundo grego e de formação cultural e helenística, portanto, sem os preconceitos e precedentes condicionantes da tradição religiosa judaica, ele foi ao encontro do cristianismo tal como era anunciado pelos Apóstolos e primeiros testemunhos oculares de Cristo, com profundo entusiasmo pela dimensão extraordinária dos acontecimentos dos cristãos.
Sua chegada à fé tem o sabor de uma autêntica descoberta; ter encontrado a Deus na pessoa de Cristo, para Lucas, equivale ter encontrado o Salvador, o consolador de toda a aflição do mundo, a luz da esperança no profundo desespero humano. Daí a nota de alegria que se manifesta em seu Evangelho desde as primeiras páginas. Sua preocupação, ao começar a pesquisa sobre os fatos relacionados com o Cristo, foi o de todo o historiográfico: coletar cuidadosamente tudo que havia em documentos escritos e em depoimentos orais para que sua narração fosse totalmente fiel à verdade dos acontecimentos e o mais completa possível em sua descrição.
(BOCCALI; LANCELLOTTI. Comentário ao Evangelho de Lucas. Petrópolis: Vozes, 1983)
O Cristo de Lucas exala a misericórdia divina, o acolhimento dos excluídos, o chamado o desapego e a pobreza com o terrível "Ai de vós, ricos!" (6,24). A discreta arte do autor e sua sensibilidade animaram todo o texto. Convencido da presença atuante do Espírito Santo nos corações, Lucas foi o evangelista da alegria. Foi o único a mencionar vários episódios mais cativantes da existência de Jesus: a anunciação (1,26-38); o nascimento de uma manjedoura (2,1- 21); o menino entre os doutores da Lei (2,41-52); as irmãs Marta e Maria (10,38-42); o perdão do Bom Ladrão (23,39-43); o inesquecível o relato dos discípulos de Emaús (24,13-35). Só ele conservou para nós algumas das mais belas parábolas: o Bom Samaritano (10,29-37); o Filho Pródigo (15,11-32); o Administrador Infiel (16,1-13); o Fariseu e o Publicano (18,9-14).
(SELLIER, Philippe. Para conhecer a Bíblia. Um guia histórico e cultural. São Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 162.)